Esse importante poeta abolicionista subverteu várias temáticas do romantismo: ele trocou a presença da natureza pela da humanidade e o coração pelo pensamento.
Conhecido como “cantor dos escravos”, Castro Alves escreveu “Espumas flutuantes”, em 1870. Após sua morte, mais dois livros foram lançados: “A cachoeira de Paulo Afonso”, em 1876, e “Os escravos”, em 1883.
Seu engajamento social é visto no potente poema “Tragédia no lar”, em que ele convida o leitor a visitar, no imaginário, uma senzala:
Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas ... cuidado ...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.
Seu poema mais famoso é o emocionante “Navio negreiro”, em que ele denuncia a situação em que os escravos viviam dentro de um navio que os trazia para o Brasil, para uma vida de escravidão e sofrimento:
’Stamos em pleno mar… Doudo no espaço
Brinca o luar – dourada borboleta;
E as vagas após ele correm… cansam
Como turba de infantes inquieta.
‘Stamos em pleno mar… Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro…
O mar em troca acende as ardentias,
– Constelações do líquido tesouro…
(...)
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!…
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Perceba que no verso “Que a brisa do Brasil beija e balança”, há a repetição de palavras que se iniciam com a letra B. Essa aliteração faz com que o leitor tenha impressão de que o ritmo do poema imita o tremular da bandeira brasileira citada pelo autor.
Além de poemas sociais, Castro Alves também foi visionário em seus poemas líricos. Você deve se lembrar que, na segunda fase do Romantismo, os ultrarromânticos viam o sexo como algo errado.
Aqui, Castro Alves constrói poemas acerca do amor, com uma erotização da figura feminina.
O padrão de beleza já não é mais a moça virginal e pálida. Aqui, é a mulher real, lasciva e sedutora, que inclusive pode trocar o eu lírico por outro amante.
Adormecida
Uma noite, eu me lembro… Ela dormia
Numa rede encostada molemente…
Quase aberto o roupão… solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina…
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
Castro Alves mudou o tom do Romantismo Brasileiro e trouxe um amadurecimento para a literatura de nosso país, como se percebe em seus poemas líricos, que demonstram um amor mais real.